Leitura Orante – 26º domingo do tempo comum, 01 de outubro de 2017
PRESENÇA PROVOCATIVA DE JESUS
“...os coletores de impostos e as prostitutas vos precedem no
Reino de Deus” (Mt 21,31)
Texto Bíblico: Mateus 21,28-32
1 – O que diz o texto?
A frase acima é uma das mais cortantes, proferida por Jesus aos chefes religiosos. Os cobradores de impostos e as prostitutas constituíam as duas classes de pessoas mais odiadas e que sofriam maior preconceito na sociedade religiosa de seu tempo.
Com sua presença e ternura Jesus quebra as atitudes preconceituosas que delimitam friamente os espaços e alimentam proibições que impedem a manifestação da vida.
Jesus, pelo seu modo de ser e pela sua pregação, toca as profundezas da vida. Ele convive, a maior parte de seu tempo, com aqueles que não tinham lugar dentro do sistema social-religioso existente. Ele se coloca ao lado dos excluídos e dos últimos da história: acolhe os “imorais” (prostitutas e pecadores), os “marginalizados” (leprosos e doentes), os “hereges” (samaritanos e pagãos), os “colaboradores” (publicanos e soldados), os “fracos e os pobres” (que não tem poder nem saber); os que não tem lugar passam a ser incluídos.
Jesus se revela “excêntrico” com relação aos sistemas, poderes e costumes de seu tempo, e isto numa dupla dimensão: o centro, para Jesus, está nas margens, os marginalizados e excluídos são trazidos por Ele para o centro.
Jesus assume a tal ponto a indigência e a fragilidade do ser humano, que aqueles que o encontram e o escutam reconhecem de imediato estar diante de um homem profundamente humano.
Jesus “entra” na realidade, sem discriminá-la nem classificá-la. Simplesmente acolhe tudo quanto é desprezível e aparentemente desprovido de valor. A atuação de Jesus revela-se como abraço da realidade. Sua visão de vida não o afasta da realidade; manteve-se sempre em contato com a fragilidade da existência; sentou-se à mesa com pecadores e misturou-se com prostitutas; voltou-se para aqueles pelos quais as pessoas não nutriam qualquer interesse: os pobres, os oprimidos, os excluídos...
Jesus derruba as barreiras da religião e raça. A revelação messiânica se expande como o sol do meio-dia e atinge a todos, sobretudo aqueles de “má-fama”. O Reino encarna-se na história dos pequenos e desprezados. O vinho novo faz arrebentar os odres velhos.
* O papa Francisco nos dirige um contínuo apelo a viver a “cultura do encontro” em meio a uma “cultura da indiferença”. Concretamente: qual seria sua “ajuda” específica e original neste grande empreendimento?
2 – O que o texto diz para mim?
Jesus provoca um grande escândalo nos seus ouvintes, sobretudo entre os fariseus, sacerdotes e anciãos do povo, que se consideravam superiores aos outros, perfeitos cumpridores da lei, e, portanto, merecedores da atenção de Deus.
Eles apresentavam-se como modelos para o povo, porque viviam atraídos por um Deus que somente eles encontravam. É duro viver ao lado de um fundamentalista, porque igualmente duro é seu “deus”.
De fato, há um monstro que habita as profundezas do meu ser, devorando-me continuamente e expelindo seu veneno mortal: trata-se do preconceito.
Ele constitui o risco permanente em minha vida, pois limita a realidade, aumenta as distâncias, estreita o coração, inibe o olhar e me faz incapaz de acolher o bem e a verdade presente no outro que é diferente.
O preconceituoso está o tempo todo petrificado em suas velhas e deformadas opiniões sobre tudo e sobre todos. Ele é precipitado em julgar, apressado e ansioso na formulação de juízos sem critérios.
3 – O que a Palavra me leva a experimentar?
Geralmente, os preconceituosos são dogmáticos e fervorosos, muitos deles tornam-se fundamentalistas, com hostilidade e intolerância religiosa. Cegos para a verdade, eles preferem o auto engano ao conhecimento de fato; fincam pé naquilo que pensam que sabem, no que está estabelecido e normatizado; não se atualizam, não conseguem ver o novo e a necessidade de mudanças.
Ao tornarem absoluta uma verdade, condenam-se à intolerância e passam a não reconhecer e a respeitar a verdade e o bem presentes no outro. Não suportam a coexistência das diferenças, a pluralidade de opiniões e posições, crenças e ideias. Daí surgem o conservadorismo radical, o medo à mudança, a violência diante da crítica, a suspeita, a vigilância, o controle autoritário...
4 – O que a Palavra me leva a falar com Deus?
Senhor, a partir da fragilidade, Jesus impulsiona o salto para a vida; Ele reconstrói o ser humano na própria raiz do seu ser, precisamente onde ele se revela limitado, frágil.
Pois é quando se reconhece fraco e limitado que o ser humano se abre para Deus e para os outros; ele sente-se necessitado de salvação; sua indigência e fragilidade fazem-no disponível, aberto à graça de Deus e lhe permitem abraçar o dom da salvação.
No seu “exceder-se”, Jesus abraçou diferenças e novos horizontes. O Seu ministério ultrapassou as fronteiras. Convidou-me a tomar consciência da ação de Deus em lugares e pessoas que estou inclinada a evitar: cobradores de impostos, doentes, prostitutas, pecadores e pessoas de todos os tipos, que eram marginalizadas e excluídas. Jesus “deslocou” Deus do Templo para as periferias.
Como água que dá vida a todo aquele que tem sede, Jesus mostrou-se interessado por todas as zonas áridas do Seu mundo. O Reino de Deus, que pregava constantemente, tornou-se uma visão de um mundo onde todas as relações são reconciliadas em Deus.
E foi nas “fendas da humanidade” que o próprio Jesus revelou o novo rosto do Pai e entrou em comunhão com Ele. Jesus me aponta o Deus presente e atuante nos meandros de minha história, de minhas feridas, de meus fracassos...; Aquele que não tem vergonha de se aproximar e de se misturar com a pobreza e a fragilidade dos seus filhos; é o Deus santo que mergulha e santifica toda minha existência.
Ele se revela como um “Deus errante”, que corre ao encontro daqueles que estão perdidos.
5 – O que a Palavra me leva a viver?
Buscar, através do seguimento, fazer e viver o que fez e viveu Jesus: adotar as atitudes, o olhar e a capacidade de contemplação da realidade que o mesmo Jesus adotou.
Nas encruzilhadas desafiadoras de hoje sou chamada a estabelecer, também com aqueles que não compartilham minha fé, nem são de minha cultura, mentalidade..., relações de proximidade, reciprocidade e intercâmbio; sou movida a compartilhar com eles obscuridades e perguntas e também momentos de luz e de revelação.
A partir das “fendas da humanidade” se faz visível o rosto Deus que toma partido pela vida de qualquer ser humano e que me chama a fazer-me presente nos lugares onde essa vida está ameaçada, algo que foi sempre a “especialidade de Jesus”.
Uma profunda experiência cristã me faz “virar a cabeça” e dirigir meu olhar para as “margens”, para as “periferias” da história... comprometendo-me com os prediletos de Deus.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas: Mateus 21,28-32
Pe. Adroaldo Palaoro, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: Eu quero acreditar na vida – Fx 11 (04:38)
Autor: Zé Martins
Intérprete: Zé Martins
CD: Certezas – Zé Martins
Gravadora: Paulinas Comep