Leitura Orante – 18º domingo do tempo comum, 31 de julho de
2016
A TIRANIA DO EGO
E direi à minha alma: alma, tens muitos bens
armazenados para muitos anos;
descansa, come, bebe, e festeja. (Lc 12,19)
Texto Bíblico: Lc
12,13-21
1
– O que diz o texto?
A parábola do “homem rico”,
dominado pelo “ego possessivo”, é
contada por Jesus a partir de uma demanda de alguém que d’Ele se aproxima e lhe
suplica que resolva uma questão da partilha de bens com seu irmão, que lhe faça
justiça. Como bom pedagogo, Ele parte de uma questão colocada por alguém e vai
mais além da exterioridade da situação; ou seja, Ele vai à raiz dos problemas,
que está no coração do ser humano.
O monólogo do “homem rico”, no
Evangelho de hoje, revela que, tudo na sua vida, gira em torno do próprio eu: "meus celeiros",
"meu trigo", "meus bens". Em sua vida, não existe espaço
para Deus e para o próximo. Tudo é pensado em função de sua satisfação pessoal:
solidariedade, partilha, misericórdia são palavras banidas de seu vocabulário.
Este homem reduz sua existência a
desfrutar da abundância de seus bens. No centro de sua vida está só ele e seu
bem-estar. Deus está ausente. Os empregados que trabalham em suas terras não
existem. As famílias das aldeias que lutam contra a fome não contam.
Para Jesus é mais importante
desmascarar a cobiça e a avareza que nos dominam que fazer valer os direitos na
partilha da herança.
As palavras de Jesus, nesse
sentido, são magistrais: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância...; a vida
de um homem não consiste na abundância de bens” (v. 15).
2
– O que o texto diz para mim?
O Evangelho não me convida ao
conformismo. O primeiro é a justiça, querida por Deus, pregada e vivida por
Jesus: que todos tenham pão, moradia, saúde... fruto da comunhão, da
solidariedade, novo nome da justiça; isso é o Reino, a Nova Humanidade. Mas pode
ocorrer que quando tenho o justo, o que me corresponde como filha e irmã,
ambiciono mais. Esta cobiça, pecado de raiz, nunca me permitirá descansar.
Segundo o Evangelho a pessoa
cresce e se enriquece na entrega e na desapropriação.
Porque só assim deixa
refletir algo da maneira de ser de Deus. Nisso consiste também em ser “rico
para Deus”.
3
– O que a Palavra me leva a experimentar?
Na vida, eu preciso de algumas
seguranças. E aspiro condições dignas de vida. Mas, há uma linha que separa a
necessidade verdadeira da ansiedade imposta, a segurança do necessário e a
insegurança do excesso e do abuso. Há uma tentação muito humana que a mim
habita: a de ter mais, acumular sempre, apossar-se de tudo... Parece que não me
satisfaço nunca com aquilo que consigo. Tudo revela-se insuficiente, e o
impulso por acumular – riquezas, bens, relações ou experiências – se converte
em voracidade.
Esta carência existencial é
reforçada pelo ambiente no qual vivo, marcada pelo consumismo; a publicidade
continuamente me impõe a ideia de que só tem valor quem tem e acumula bens e
riquezas.
Nesse ambiente, vou alimentando
uma espécie de ego, vivendo centrada
em mim mesma e separada do resto do mundo. Tal ego é possessivo. Muitas vezes
manifesta-se como um desejo insaciável de dinheiro e de bens. Daí a obsessão
pela riqueza. Toda a minha economia está baseada na poderosa força
impulsionadora do interesse individual. O ego exacerbado quer controlar o seu
mundo: pessoas, acontecimentos e natureza. A partir da riqueza, ganha força a
busca do poder e do domínio sobre os outros.
O ego compara-se com os outros e
compete pelos elogios e pelos privilégios, pelo amor, pelo poder e pelo
dinheiro. É isso que me torna invejosa, ciumenta e ressentida em relação aos
outros. Também é isso que me torna hipócrita, dominada pela duplicidade e pela
desonestidade.
Esse ego não confia em ninguém a não ser em si mesmo. É essa falta de
confiança que me torna tão insegura. Fico inevitavelmente cheia de medos, preocupações
e ansiedades. O meu ego, ou individualismo egoísta, torna-me solitária e
temerosa.
O ego não ama ninguém além de si,
atendendo apenas às suas próprias necessidades e à sua própria gratificação.
Sofrendo de uma falta total de compaixão ou empatia, ele pode ser
extraordinariamente cruel para com os outros.
4
– O que a Palavra me leva a falar com Deus?
Senhor, de onde vem tanta avareza
e cobiça? Onde se encontra a raiz do instinto de posse?
Posso dizer que por detrás desse
impulso de acumulação se esconde uma experiência de empobrecimento humano. Na
origem da avareza, parece existir um vazio
afetivo, uma infantil experiência de insegurança e, em último termo, uma
desconexão de minha verdadeira identidade.
O vazio afetivo “exige” ser
preenchido compulsivamente: esta é a fonte da ansiedade, que se traduz em
variadas dependências, uma das quais, pode ser a afeição desordenada pelo
dinheiro ou pelos bens materiais. Neste sentido, a cobiça ou avareza é esforço
– inútil e estéril de preenchê-lo.
A avareza, enquanto necessidade
ilimitada de acumular, se explica – como todos os comportamentos egóicos – a
partir da desconexão de minha verdadeira identidade. O que sou em minha
identidade profunda – é Plenitude. Mas, quando me distancio de meu “eu
profundo” ou o ignoro, começo a viver como ser separada e carente, em luta
permanente e esgotadora por dissimular aquela carência que creio ser. Mendigo
migalhas – “ajunto tesouros para mim mesma” – sem reconhecer que já sou “rica
diante de Deus”.
5
– O que a Palavra me leva a viver?
Estar sempre
alerta para não me deixar determinar pelo dinamismo da cobiça.
Viver confiando nas mãos
providentes do Deus Pai, Mãe, buscando o Reino Utopia como o mais importante.
Investir numa única fortuna: a do amor, do
favorecimento da vida, a do descentramento de si mesmo em favor do serviço ao
outro, o das obras em favor dos mais pobres e desfavorecidos...
Deixar cair minha falsa
identidade, tomar distância do ego e, pacificar e aquietar o meu interior,
fazer-me consciente da Plenitude que sou.
Descobrir a nobreza de minha
identidade profunda, identidade unitária e partilhada, a salvo de ladrões,
enfermidades e mortes.
Desmascarar meu ego com todas as
suas maquinações e duplicidade.
Só uma pessoa
esvaziada de seu ego pode transformar-se e transformar a realidade.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas:
Lc 12,13-21
Pe. Adroaldo Palaoro, sj – reflexão do
Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música:
Sem Deus – Fx 07 (3:36)
Autor:
Pe. João Carlos
Intérprete: Pe.
João Carlos
CD:
Pe. João Carlos - Profetas
Gravadora: Paulinas Comep
Sugestão:
Música:
Valores – Fx 09 (2:58)
Autor:
Pe. Zezinho, scj
Intérprete: Fabio Carneirinho
CD:
O pregador e o sanfoneiro
Gravadora: Paulinas Comep
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