Leitura Orante – 12º domingo do tempo comum, 19 de junho de
2016
DO “EU ESTREITO” AO “EU EXPANSIVO”
“Quem
quiser vir após mim negue-se a si mesmo,
carregue
cada dia sua cruz e siga-me” Lc 9,23)
Texto
Bíblico: Lc 9,18-24
1
– O que diz o texto?
O Evangelho de
hoje nos convida, mais uma vez, a alargar o círculo, a olhar para fora, a
descentrar-nos para encontrar o outro, a Deus, e, provavelmente, por esse
caminho, também o olhar mais autêntico e completo sobre a nossa própria vida.
Ali Jesus fala em “renunciar a si
mesmo”. O modo mais simples de traduzir isso poderia ser: “deixa de viver
para teu eu estreito”, “não gires em torno ao teu ego, porque esse modo de vida
te aprisionará cada vez mais, e tua vida será vazia e estéril”.
Trata-se de um
convite a ir mais além do ego e descobrir nossa verdadeira identidade, aquela “identidade compartilhada”, na qual o próprio
Jesus se encontrava.
O sentido de
nossa existência consiste, portanto, em “passar da morte à vida”: é a isso que
as palavras de Jesus nos convidam. O destino do eu atrofiado é a morte: viver para o eu equivale a perder a vida. Quem
começa a descobrir sua verdadeira identidade, já está morrendo ao seu ego,
porque descobriu que é “outra realidade”: a Vida que não morre. E, a partir desta nova percepção, toda a visão
da própria existência se modifica.
“Aquele que quer
salvar seu ego, perde a vida; mas aquele que perde seu ego, salva a vida”. E
Lucas acrescenta o “por minha causa”, para destacar nossa unidade em torno ao
seguimento do Mestre.
2
– O que o texto diz para mim?
Uma leitura
superficial do evangelho de hoje pode dar a impressão que o cristianismo é a
religião que preconiza o sofrimento, a renúncia, a negação de si mesmo, o
esvaziamento da própria identidade.
O
sofrimento foi de tal modo exaltado que levou muita gente a viver na
passividade e resignação, esvaziando o sentido do seguimento e
bloqueando a esperança.
De
fato, existem sofrimentos que são vazios, sem sentido, “insensatos”..., pois
fecham a pessoa em si mesma, na sua aflição e angústia; não apontam para o
futuro, para a vida.
Como
consequência, a Cruz ocupou o primeiro lugar e tudo passou a girar em torno a
ela.
Quando não se
vive em profundidade só resta a rotina, a superficialidade, o tarefismo sem
sentido, o desânimo, o “vazio vital”; renunciando à tensão do “mais” a
pessoa revela incapacidade de tomar a vida nas próprias mãos e dar-lhe uma
direção mais ousada e criativa.
É nesse contexto
que surgem inúmeros sofrimentos “insensatos” (sem sentido).
3
– O que a Palavra me leva a experimentar?
A missão
primeira de Jesus foi a de aliviar toda dor humana. Por isso, suas inumeráveis
curas relatadas nos evangelhos. Suas palavras expressam uma grande sabedoria:
elas buscam “despertar” a pessoa para que possa viver com mais plenitude e
perceber a melhor atitude frente à vida; elas condensam o significado de uma vida
vivida por Jesus na fidelidade ao Pai que quer que todos vivam
intensamente.
“Negar a vida”. Trata-se de negar a
“ilusão do eu”, para acessar à Vida, que é minha verdadeira identidade. Porque
só quando deixo de me identificar com o “ego”, tomo consciência da Vida que sou.
Essa é a Vida de que fala o evangelho, a mesma Vida que Jesus viveu, com a qual
Ele mesmo estava identificado (“eu sou a Vida”) e a que buscava despertar nos
outros.
“Negar-se a si
mesmo” e “carregar a cruz “ equivalem a fazer meu o caminho de Jesus. Ele se
negou a tomar o poder, nem usou a força e o prestígio como meios para servir e
salvar a humanidade. Jesus escolheu o único caminho que conduz ao coração do
ser humano: a solidariedade com todos os excluídos da terra. Este foi o caminho
d’Ele e este deve ser meu caminho se quero estar com Ele.
4
– O que a Palavra me leva a falar com Deus?
Senhor,
carrego recursos ainda adormecidos, potencialidades quase divinas que, em
alguns momentos privilegiados, descubro em meu interior. E, no entanto, ao reconhecer
minha fragilidade humana, estremeço diante de minhas ricas capacidades.
“Renunciar a si mesmo”
desvela o dinamismo de morte no interior de cada pessoa, marcado pelo medo
de ir para além de si mesma; trata-se do medo de sua própria grandeza, o medo
da sua missão, medo da vastidão dos seus sonhos... Na ausência de horizontes, a
pessoa se limita ao seu modo habitual e fechado de viver; acomoda-se e não faz
a travessia; não faz as
coisas com paixão e com criatividade.
A verdadeira identidade, ou “eu expansivo”, é dinâmica, histórica, fecunda, aberta
ao desconhecido, aventureira... Ela só se desvela para aquele que se desprende
das defesas e projeções do falso eu.
5
– O que a Palavra me leva a viver?
Estar aberta ao contato
com a minha própria realidade interior, para que venha à superfície aquilo que
me sustenta e dignifica o meu viver.
Dirigir meu
olhar para o mais íntimo de mim mesma, onde nascem sentimentos e valores,
decisões e gestos... onde sou convidada a se alegrar com os rastros da Graça.
Cessar de buscar-me
como “eu” e deixar-me repousar no Silêncio, na Presença que anima tudo o que é.
“Descobrir-se a si mesmo” é descobrir
que no próprio interior há um movimento infinito de construção de si mesmo, de
identidade em movimento... que se torna possível graças a um constante arrancar-se
do imobilismo e do auto-centramento existencial, que travam o fluxo da vida.
Viver a partir
das raízes que me sustentam. Em contato com a fonte e na viagem para dentro,
clareia-se a visão de mim mesma, da minha originalidade, dignidade.
Há uma força de
gravidade que me atrai progressivamente para o mais profundo de mim mesma, onde
Deus me espera e me acolhe, e onde encontro o sentido de minha existência e a
verdadeira paz.
Só transcende
quem se aproxima da própria interioridade, do próprio coração.
Estou diante de uma boa notícia: “Desperta!”
“reconhece quem tu és!”.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas: Lc
9,18-24
Pe. Adroaldo, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: Quem é esse Jesus? – fx 01 (3:38)
Autor: Pe. Zezinho, scj
Intérprete: Pe. Zezinho, scj
CD: Quem é esse Jesus?
Gravadora:
Paulinas Comep
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