Leitura Orante – Corpus Christi, 26 de maio de 2016
ESPIRITUALIDADE DO CORPO
Texto Bíblico: Lc 9,11-17
1 – O que diz o texto?
“A festa de Corpus Christi quer nos fazer recordar que CORPO é cálice, onde se bebe o vinho da alegria e da salvação, inserido no CORPO místico e cósmico de Cristo. Só haverá futuro digno quando todos os CORPOS viverem em comunhão, saciados da fome de pão e de beleza” ( Frei Betto).
Por meio da Encarnação e por meio da Ressurreição de Jesus, a carne se converteu em espelho da divindade. Assim, o corpo humano começou a ocupar um lugar central.
O próprio Deus se fez corpo, no corpo de uma mulher: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
A espiritualidade cristã é “encarnada”.
A Encarnação foi o caminho que a Trindade escolheu para se aproximar da humanidade e fazer história conosco. Nosso corpo humano, feito de barro – vaso frágil e quebradiço – tornou-se o lugar privilegiado da chegada e da revelação do amor trinitário.
Se nos fixarmos nas palavras e nos gestos de Jesus na última Ceia, descobriremos que suas palavras (“isto é meu corpo”) e seus gestos (partir e repartir o pão) constituem a essência afetiva e social (de amor e justiça) do cristianismo e a verdade do Evangelho.
Celebrar “Corpus Christi” é “cristificar” nossos corpos.
2 – O que o texto diz para mim?
Eucaristia é “Corpo” e é corpo doado e partilhado, não pura intimidade de pensamento, nem desejo separado da vida. A Eucaristia é Corpo feito de amor expansivo e oblativo, que se expressa no trabalho da terra, na comunhão do pão e do vinho, no respeito mútuo frente o valor sagrado da vida, no meio do mundo, nas casas de todos, em plena rua. Não são necessários grandes templos e nem suntuosas procissões para celebrar a festa do Corpo de Deus; basta a vida que se faz doação e partilha, no amor, como Jesus fez.
No gesto do partir e repartir o pão se condensou todo o caminho de Jesus: vida que se doou para aliviar todo “sofrimento humano” (curas), para proporcionar a “refeição partilhada” (ceias e multiplicação dos pães) e para ativar “novas relações humanas” (sermão da montanha).
Celebrar o “Corpus Christi” é atualizar estas três preocupações centrais da vida de Jesus. Aqui se conecta a essência de Sua vida na vida dos seus seguidores.
3 – O que a Palavra me leva a experimentar?
A humanidade de Deus me incomoda. Coisa que os primeiros cristãos descobriram com espanto.
Eles entenderam que para falar de Deus é necessário deixar de falar de Deus, e falar sobre um homem, um rosto, uma vida... Foi então que eles ficaram cristãos.
Parece que não sei lidar muito bem com esse estranho e (des)conhecido que é o meu “corpo”.
É preciso estabelecer o diálogo com o corpo. Não se trata apenas de uma reconciliação amistosa, mas de uma descoberta radical. Ignoro meu corpo, apesar de tê-lo tão próximo; é preciso dar-me conta das riquezas que tem, o muito que sabe, a importância do que tem a me dizer, a necessidade de seu apoio e a sabedoria de sua amizade.
Aqui está meu melhor amigo, fielmente junto a mim, e nem sempre o percebo.
A corporeidade penetra toda a minha auto-realização como ser humano.
O corpo é o templo do Espírito, o lugar onde o “Verbo se fez carne”.
O corpo fala por si mesmo, comunica, reage... O corpo é expressão de minha feminilidade ou masculinidade, de minha sexualidade integrada ou reprimida, de minha saúde ou doença, de minha alegria ou tristeza, realização ou frustração, de minha consolação ou desolação.
O corpo é expressão e comunicação daquilo que sou.
4 – O que a Palavra me leva a falar com Deus?
Senhor, diante do Corpo de Cristo, meu corpo se plenifica na comunhão com outros corpos, com Deus e com o corpo da natureza. Meu humilde corpo é parte da Criação inteira e meu bem-estar faz sorrir a natureza.
Meu corpo é pura relação. Nele ficam registradas todas as marcas de minha vida, de minha história.
O corpo é presença e linguagem - tudo nele fala: fala o rosto, falam os olhos, falam os movimentos e as posturas, falam os gestos, acompanhando, reforçando e expressando a intenção íntima.
Meu corpo é tocado pela encarnação de Jesus. E Deus conhece minha estrutura. Sabe de que barro sou feita.
5 – O que a Palavra me leva a viver?
A “linguagem espiritual” acompanha a “linguagem corporal”, assim como a linguagem do corpo reforça a linguagem espiritual.
Rezar minha humanidade.
Levar para a oração os desafios do cotidiano, os imprevistos da vida.
Ser humana diante de Deus.
Deixar meu corpo falar a Deus.
Rezar com meu corpo.
E agradecer e bendizer sempre o Senhor.
Celebrar o “Corpo de Cristo”, uma das festas mais ricas que me faz pensar em seu conteúdo e simbolismo.
Aceito, pela fé, a presença real de Cristo na Eucaristia; isso implica comunhão, bem maior com minha vida, testemunho de amor, de partilha, solidariedade, dedicação, transformação...
“Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós?” (1Cor, 6,19)
O meu corpo é o “templo” santo e santificado, onde Deus Trino faz sua morada.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas: Lc 9,11-17
Pe. Adroaldo Palaoro, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: Este pão – Fx 12
Autor: Pe. Zezinho, scj
Interpretes: Pe. Zezinho, scj e Cantores de Deus
Coro: Dalva Tenorio, Angela Marcia, Silvinha Araujo, Ringo, Caio Flavio, Mauricio Novaes.
Solo: Silvio Brito, Dalva Tenorio, Farid Maria, Marileia Silveira.
CD: Quando agente encontra Deus
Gravadora: Paulinas Comep
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