Leitura Orante – 4º domingo da Páscoa - 17 de abril de 2016
ESSA “ESCUTA” TÃO DIFÍCIL...
“Minhas ovelhas ouvem minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27)
Texto
Bíblico: Jo 10,27-30
1 – O que diz o texto?
O Evangelho deste domingo nos
motiva ressuscitar também nossa capacidade de escuta para estar atentos à voz d’Aquele que vive. Precisamos
afastar a pedra da entrada dos ouvidos para escutar a sinfonia de vida que,
continuamente, faz seu recital ao nosso redor.
O convite à escuta nos interpela com força desde os primeiros tempos bíblicos;
escuta como atitude de abertura à profundidade da vida, de uma vida que tem
sentido e que se abre a uma dimensão transcendente, que entra em sintonia com
Aquele que escuta e se faz escutar. Escutar como atitude de fé e não como
simples exercício da capacidade de ouvir. Escutar é mais que ouvir.
“Escuta, Israel… amarás”. Escutar, abrir os ouvidos… diz-se que Israel é o
povo da escuta, em vez de ser o povo da visão (gregos). É verdade que no
deserto não há nada para ver.
Os olhos mal se ajustam à luz… mas há cantos de
areia, vozes no vento, gemidos de animais, palavras por dentro, no interior…
2 – O que o texto diz para
mim?
O ser humano é o único capaz de escutar
e de falar, porque é o único criado
à imagem e semelhança d’Aquele que é a Palavra cheia de verdade e a escuta
cheia de amor.
O povo que traz a Palavra de Deus é o povo da escuta. Portanto, o primeiro
mandamento é “escutar”.
“Escuta”, ou seja, atende à Voz, acolhe a Palavra. No fundo, isto quer
dizer: não te feches, não faças de tua vida um espaço isolado onde só são
escutadas tuas vozes e as vozes do mundo.
Para além de tudo o que fazes e pensas, daquilo que desejas e podes,
estende-se o vasto campo da manifestação de Deus; abrir-se à Sua voz, manter a
atenção acesa, ser receptiva diante de sua Palavra: esse é o princípio que
plenifica e dá sentido à existência.
É Deus que me ensina a calar e a fazer silêncio. Existe uma palavra que informa, educa, ensina,
apazigua, alegra, reconforta e edifica, mas também há outra que confunde,
obscurece, empobrece, entristece, quebra, divide...
3 – O que a Palavra me leva a
experimentar?
É importante progredir pelo caminho do silêncio,
no qual me educo na escuta
autêntica, que é a única capaz de me conduzir ao puro amor. Porque o grau
supremo da escuta é o silêncio cheio de amor.
Diante da voz do Bom Pastor não se trata de ser receptiva a algumas ideias,
ouvir determinados conceitos, mas de escutar com o ouvido do coração,
procurando captar a vida que pulsa no coração d’Ele. Saber escutar, saborear o
que Ele diz, entrar em comunhão de sentimentos, deixar-me impactar pelo seu
modo de ser e de viver, suas opções, suas relações com o Pai e com os outros...
E isto exige uma capacidade de escuta de mim mesma e uma profundidade que possivelmente está me faltando, sobretudo se eu estiver me movendo na superficialidade da vida.
4 – O que a Palavra me leva a
falar com Deus?
Senhor, a vida é a verdadeira
escola para a aprendizagem da escuta.
Por isso, escutar a voz do Pastor implica eu me colocar no caminho da
verdadeira e autêntica humanização. Daí a insistência em ter uma atitude aberta
e acolhedora de escuta.
Escutar o “mistério” entranhável
e sempre livre do Pastor é o caminho para encontrar minha originalidade, meu
nome, para me encontrar n’Ele, deixando-me impregnar pelo seu “modo de
proceder”; só assim poderei viver como “ressuscitada”.
A escuta é o caminho da
originalidade, é a condição para não se viver na inércia.
Custa-me muito ter sempre uma atitude de escuta receptiva, sobretudo em minha sociedade secularizada, globalizada, individualizada, informatizada ou tecnologizada. Tudo são aparelhos. Tudo são ruídos. Todo o mundo quer falar, expressar-se. Mas falta o interlocutor que escuta sabiamente.
5 – O que a Palavra me leva a
viver?
Rubem Alves, com seu fino humor, afirmou: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil”.
Escutar é uma arte difícil; aprender a escutar exige paciência e
prática; escutar requer liberar tempos e criar hábitos: tempos para escavar
significados e desmontar pré-juízos; hábitos para fazer silêncio e refletir
sobre o escutado. O mais difícil não é aprender algo novo, mas desaprender algo
antigo. Acontece o mesmo com a atitude de escutar: o difícil não é ouvir, mas
esvaziar-se o suficiente para que a palavra escutada entre, ressoe e permaneça.
Escutar é uma arte que implica todos os sentidos, não só os ouvidos: pede
atenção às palavras, gestos, reações, silêncios...; pede saber interpretar e
ler entrelinhas; pede meditar e digerir o visto e ouvido.
Escutar com ouvidos de Deus a fim de que me
seja dada a falar com a Palavra de Deus.
Prestar atenção a essa voz interior e assumir o sentido de minha existência.
Buscar o sentido da vida. Um
verdadeiro exercício de escuta.
Escutar atentamente esse chamado
do Pastor Ressuscitado que emerge de meu interior.
Perceber qual é a missão que devo
assumir ao longo da existência: ser presença de vida em meio a uma realidade
marcada por tantas mortes.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas: Jo 10,27-30
Pe. Adroaldo Palaoro, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: Silêncio – fx12 – 3:39”
Autor e arranjo vocal: Frei Luiz
Turra
Intérpretes: Dulce Maria Scher Cemin, Ceni Maria Onzi Isopro, Tetê,
Izodoro Julio Isopro, Gustavo Andre Ruffato, Marcio Barreto, Deonides Chenet
Ravanello
CD: Mantras – para uma espiritualidade de comunhão
Gravadora: Paulinas Comep
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