Leitura Orante – 5º domingo
da quaresma, 13 de março de 2016
ONDE HÁ MISERICÓRDIA NÃO HÁ
JULGAMENTOS
“Mestre, esta mulher foi surpreendida
em flagrante adultério. Na lei, Moisés nos ordenou que essas tais sejam
apedrejadas. E tu, que dizes?” (Jo
8,4-5)
Texto Bíblico: Jo 8,1-11
1 – O que diz o texto?
No evangelho de hoje, o pressuposto de Jesus é que ninguém
pode ser identificado com seus atos exteriores, ou com suas aparências. Dentro
de cada um, existe um mistério profundo e impenetrável, cujo conhecimento é
reservado unicamente a Deus. É preciso respeitá-lo, sabendo que, por detrás de
cada ato humano, existe uma história que nos escapa. Deixemos que Deus seja
Deus e que Ele tenha a última palavra. Ele conhece cada pessoa, na sua
intimidade. Por isso, não corre o risco de se enganar. É com misericórdia que ele pesa as ações
humanas; por isso Ele salva sempre.
O relato de João, indicado para a liturgia deste domingo, põe em
confronto duas maneiras diferentes de reagir perante a “mulher pecadora”: uma, de acolhida e proximidade; outra, de
julgamento e distância.
De um lado, os olhares julgadores dos escribas e fariseus se voltam para
a mulher, ao mesmo tempo que a atenção repreensiva concentra-se sobre Jesus,
buscando motivos para também julgá-lo.
Por outro lado, entre o Mestre e a mulher se instaura uma surpreendente
compreensão e acolhida: nada de julgamento e condenação.
Jesus percebeu algo muito sério nesta inclinação que temos de
julgar as outras pessoas.
2 – O que o texto diz para
mim?
É escandalosa a capacidade do ser humano causar dano aos
outros; e dentro desse dano infligido às pessoas, ocupa um lugar de destaque o
juízo gratuito, a desqualificação e a condenação.
Não posso negar: tenho vocação de juiz; sou perita em
alimentar um tribunal interior.
Enquanto os escribas e fariseus não entendem a ternura e a acolhida de
Jesus para com a mulher, esta, ao contrário, conhece o mistério inefável da Misericórdia e abandona-se a Ele.
Libertada de seu passado e amada, a mulher sente-se devolvida à vida,
levando consigo no coração um dom inesperado: o perdão, que a inunda de paz e alegria. A pecadora, atraída pelo amor terno e misericordioso de Jesus,
finalmente experimenta a gratuidade e a doçura da misericórdia para consigo
mesma.
Ela muda a sua vida quando percebe ser amada por um amor envolvente,
gratuito, antecipado.
Assim, ela se torna uma nova parábola da ternura e da misericórdia de
Deus.
3 – O que a Palavra me leva a
experimentar?
Segundo o Papa Francisco, “onde há misericórdia, aí está presente
o Espírito de Deus; onde há rigidez, aí estão seus ministros”.
Por detrás de tanto juízo e condenação parece indicar uma
insegurança radical, que se disfarça justamente de segurança absoluta, fundada
na lei, onde a pessoa chega a pensar que possui a verdade e que os outros estão
no erro.
A necessidade mesma de ter razão e de acreditar ser portador
da verdade é indício de uma insegurança de base que se torna insuportável. Por
isso, o fanatismo religioso revela insegurança camuflada, do mesmo modo que o
afã de superioridade esconde um doloroso complexo de inferioridade, às vezes
revestido de “nobres” justificações.
Quando alguém se eleva em juiz da vida dos outros e, além
disso, se considera com conhecimentos e o suficiente critério para condená-los,
o que realmente faz é usurpar o lugar que corresponde a Deus.
Por isso é tão frequente que as pessoas que se consideram
mais próximas a Deus e aos princípios da estrita observância moral são os
juízes mais implacáveis. Sem dar-se conta, ocupam o lugar de Deus.
A misericórdia é a própria condição para que minha vida seja
vivida de uma maneira nova.
Fora do fluxo da misericórdia a vida se torna impossível de ser vivida.
Fora do fluxo da misericórdia a vida se torna impossível de ser vivida.
Senhor, a maneira misericordiosa de Jesus se fazer presente junto à
pecadora, mobiliza esta mulher a fazer da sua vida de erros um trampolim para a
sua humanização. Jesus não
contabiliza os pecados, não classifica as pessoas em puras e impuras. Ele
abraça a realidade em sua totalidade, integrando-a.
Mesmo sentindo-se julgada e condenada por aqueles que se apresentavam
como os legítimos intérpretes da Lei de Moisés, a mulher encontrou e descobriu,
nas palavras e na pessoa de Jesus, de modo novo e
fascinante, o rosto misericordioso
de Deus, a ponto de sentir seu abraço paterno.
Ela sentiu-se seduzida por Jesus, o “justo”,
o amigo dos publicanos e dos pecadores.
Jesus não se comportou como juiz, nem com relação à mulher,
nem com relação aos cúmplices, nem com relação aos acusadores e aos curiosos,
mas se situou em um plano mais alto: no nível da misericórdia de Deus, que envolve esta mulher e, por meio dela, a
todos os que a acusavam.
Ele acolhe e celebra a vida em sua totalidade. Não foi o passado de
erros da mulher que determinou a atitude de Jesus para com ela, pois Ele não se
deixa determinar pelo passado.
5 – O que a Palavra me leva a
viver?
Jesus tem um coração expansivo,
voltado para todas as direções, onde quer que se encontre a realidade limitada
e frágil. O encontro com Ele não desperta sentimentos de culpa; as pessoas
podem retirar-se em paz. Jesus faz da misericórdia
o verdadeiro evento divino. Nele, a misericórdia
torna-se o dom constitutivo não só do divino, mas também do humano.
A mulher estava preparada para a morte, mas Jesus a despede
viva, abrindo uma nova possibilidade de futuro. É notável como Jesus encarna a
atitude de rejeição ao pecado e amor ao pecador.
Isto foi magistralmente expresso por S. Agostinho, quando
ficaram sozinhos Jesus e a mulher: “Só ficaram dois, a miserável e a
misericórdia”.
Onde a Misericórdia
encontra espaço ali a vida tem nova chance. Os acusadores acreditavam estar seguros, fundamentados na
lei e na sua consciência. Mas Jesus, sem julgá-los, os conduz também a um nível
mais profundo, apelando a que se olhassem a si mesmos, para que vissem que eles
estavam condenando a mulher porque tinham medo, se sentiam inseguros e
necessitavam descarregar sua agressividade.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas:
Jo 8,1-11
Pe. Adroaldo, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: Ninguém fez mais do que
Jesus - fx 02 – 04’:37” - Autor: Pe. Zezinho, scj - Intérprete: Pe. Zezinho,
scj – vocal: Beto, Betinho, Tiago Amaral, Ana Clara, Giba, Maria Diniz - Cd: Quando
Deus se calou - Gravadora: Paulinas Comep
Nenhum comentário:
Postar um comentário