Leitura Orante – 2º domingo da Páscoa - 03 de abril de 2016
“POR SUAS SANTAS CHAGAS…”
“...mostrou-lhes as
mãos e o lado” (Jo 20,20)
Texto
Bíblico: Jo 20,19-31
1 – O que diz o texto?
A cena do encontro do Jesus Ressuscitado com Tomé nos revela a exigência
de conversão de um tipo de cristianismo puramente “espiritual”. Tomé se move
fora do espaço da dor de pessoas concretas, sem cruz real, sem comunidade
aberta às chagas da humanidade.
Tomé é expressão do ser humano a quem lhe custa crer na ressurreição
do Jesus histórico, do Jesus das chagas nas mãos, pés e lado, do Jesus da
carne, do Jesus do povo crucificado.
Por isso, ele não está presente no 1º. grupo que “viu” Jesus e
acreditou n’Ele.
Tomé continua sendo o apóstolo de uma espiritualidade desencarnada,
sem compromisso social, sem denúncia profética, sem solidariedade com os pobres
e excluídos. Ele é um seguidor especial de Jesus, mas sem “carne e sangue”, ou
seja, sem ressurreição histórica, sem transformação da “carne”.
2 – O que o texto diz para
mim?
Crer no Ressuscitado é comprometer-se a tirar da Cruz todos aqueles
que nela estão dependurados.
Tomé vem no “domingo” seguinte, algo lhe atrai; não só “vê” a Jesus
senão que é convidado a tocá-Lo. Esta experiência de “conversão” de Tomé, que
volta à comunidade e que toca as chagas de Jesus, faz parte essencial do
mistério da páscoa cristã.
Segundo o Evangelho de hoje, Tomé precisa converter-se, descobrindo e
confessando em sua vida a chaga de Cristo que continua sofrendo nos pobres e
sofredores.
O cristianismo é uma religião
da “carne comprometida” e solidária.
Por isso Jesus diz a Tomé, a mim, e a cada um de nós: “Põe tua mão na
chaga dos cravos, no meu peito atravessado pela lança, descobre minha presença
pascal na ferida dos crucificados da história”.
3 – O que a Palavra me leva a
experimentar?
Jesus reconstrói pessoas feridas mostrando Suas chagas e desvelando as feridas de seus seguidores (fracasso,
traição, dor, tristeza, medos...). Suas feridas revelam que, por debaixo das
feridas dos seus amigos e amigas, há vida escondida querendo se expandir;
debaixo da pedra da dor e do fracasso há um dinamismo vital querendo buscar um
lugar ao sol.
A presença misericordiosa é
a marca do Ressuscitado: ela é força criadora e reconstrutora de vidas despedaçadas.
Jesus ressuscita cada um dos seus amigos e amigas, ativando neles o sentido da
vida, reconstruindo laços comunitários rompidos e oferecendo solo firme a quem
estava sem chão, sem direção.
4 – O que a Palavra me leva a
falar com Deus?
Senhor, este Jesus pascal continua estando presente nas chagas dos
homens e mulheres das mãos esmagadas, na ferida do peito de homens e mulheres
que sofrem rejeição e preconceito, nas feridas dos pés de homens e mulheres
impedidos de dar direção às suas vidas.
Posso dizer que Jesus apresenta a seus discípulos sua Carteira de
Identidade: suas mãos chagadas e seu lado aberto. O Ressuscitado é o
Crucificado e o Crucificado é o Ressuscitado.
A descoberta da vida dos sofredores e a implicação compassiva para com
eles desperta em mim um sentimento de compaixão para comigo mesma: ela me faz
tocar minhas próprias feridas, herdadas ou surgidas na busca do crescimento
enquanto pessoa.
Mostrar aos outros as próprias feridas é um desafio, supõe abertura e
humildade. Tocar, com profunda sensibilidade, as feridas dos outros é um ato de
comunhão que me ressuscita e me inclui, como Tomé, na Ressurreição de Jesus.
5 – O que a Palavra me leva a
viver?
A Páscoa, implica aprender
a tocar com mais força e de um modo mais profundo as minhas próprias feridas e
as feridas da humanidade. Tocar em Jesus, colocar o dedo em sua chaga, é
descobrir a ferida sangrenta da história humana, vinculando assim a
ressurreição com a dor dos homens e mulheres oprimidos, excluídos, enfermos...
Nas chagas de Jesus, minhas chagas são iluminadas e integradas.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas: Jo 20,19-31
Pe. Adroaldo Palaoro, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
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