5º DOMINGO DE
QUARESMA
Ano C
Leituras: Is, 45, 16-21; Sl 125; Fl 3, 8-14;
Jo 8, 1-11
“E permaneceram somente em dois: a mísera e a
misericórdia” (Santo Agostinho, Comentário
ao Evangelho de São João)
O
quinto Domingo da quaresma nos presenteia com uma belíssima liturgia da
Palavra. Na primeira leitura o povo de Israel, que muito provavelmente está
fazendo a experiência do exílio, ouve Deus prometer por meio do profeta um novo
êxodo. Deus evoca no final da leitura a aliança firmada com o seu povo: “Este povo,
eu o criei para mim, e ele cantará meus louvores”.
No Antigo Testamento uma imagem usada para
afirmar a relação de aliança entre Deus e o seu povo é a imagem do casamento.
De fato, Israel vai para o exílio não porque Deus tenha abandonado seu povo, mas
sim porque o próprio povo, através de sua prepotência, de suas infidelidades,
afastou-se do Senhor. Foi infiel ao matrimônio contraído com seu Senhor através
da Aliança. O Senhor, apesar disso, mantêm-se fiel a ponto de prometer um
retorno para si: “Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo...”
Nestes dias tivemos a eleição de nosso Papa
Francisco. Sem dúvida é um sinal de novidade, um sinal de que Deus nunca
abandona sua Igreja.
No Evangelho, indiretamente o tema da aliança
matrimonial reaparece: Jesus encontra-se no Templo sentado e proferindo seus
ensinamentos. Dali a pouco se aproxima uma turba provavelmente ruidosa trazendo
consigo uma mulher surpreendida em adultério.
É interessante saber que a Lei mosaica previa
a pena de morte não só para a adúltera, mas também para o homem adúltero.
Curiosamente, no relato evangélico o adúltero não aparece. Apenas a mulher é
trazida à força perante Jesus. A mulher, na sociedade daquele tempo era
considerada inferior ao homem.
Sabemos que os mestres da Lei e os fariseus
apresentaram a mulher adúltera e a cláusula da lei mosaica para a lapidação com
a finalidade de “experimentar Jesus”. Ao que parece, os fariseus esperavam que
Jesus contradissesse a Lei impedindo que a adúltera fosse condenada. Isso seria
motivo suficiente para chamar Jesus de blasfemo e condená-lo à morte.
Por outro lado, caso Jesus dissesse para
cumprir a Lei, é bem provável que os fariseus e os mestres da Lei fizessem uma
campanha aberta contra Jesus, querendo desacreditá-lo junto aos seus
seguidores, acusando-o de hipócrita, de ensinar uma coisa – a proximidade com
os pecadores, o perdão – e na realidade fazer outra.
Jesus, contra toda expectativa, fica calado
e, calmamente, se inclina – talvez diante da mulher adúltera que estava “em
meio deles”, um gesto humilde de Jesus – e começa a escrever na terra.
O que terá escrito Jesus? São Jerônimo crê
que Jesus teria começado a descrever os pecados de cada um daqueles que haviam
arrastado a mulher pecadora. Nunca saberemos.
A eloquência do gesto de Jesus é acompanhada
por poucas palavras que, pela sua profundidade tornaram-se proverbiais: “Quem
dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
Sabemos que, a começar pelos mais velhos, um
por um foram deixando a cena. Talvez envergonhados por se descobrirem pecadores
tanto quanto a adúltera. Os mais velhos saíram primeiro: na medida em que o
homem envelhece vai conquistando sabedoria, vai percebendo que ninguém está
livre dos erros; muito provavelmente os mais velhos se retiram porque são os
primeiros a entender a profundidade das palavras e do gesto de Jesus.
A mulher adúltera é num certo sentido a
imagem de Israel adúltero, infiel ao seu Deus, o esposo por excelência. Quem
sabe se Jesus não escrevia por terra passagens da escritura que evocavam essa
relação infiel de Israel para com o seu Deus?
Certamente o gesto cometido por essa mulher é
gravíssimo; mas Jesus se apresenta como o justo juiz, como aquele que distingue
entre o pecado e o pecador. “Não vim para condenar”; “São os doentes que
precisam de médico”, disse Jesus.
Jesus, portanto, não condena a adúltera mas a
liberta, a faz experimentar a páscoa da libertação concedendo-lhe o seu perdão.
Jesus, o esposo fiel, convida-nos a todos a
deixarmos nossas infidelidades e a entrarmos na alegria da festa das núpcias. A
fazer a experiência do apóstolo que considerava “tudo como perda diante da
vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor”.
O mesmo “Senhor” que a adúltera, em sua
experiência de pecado e de humilhação, reconhece ao se dirigir assim a Jesus.
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