* Por Gabriel Frade
“A vós, meu Deus, elevo a minha alma.
Confio em vós, que eu não seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos,
pois não será desiludido quem em vós espera”. (Antífona de entrada)
Leituras:
Jr 33, 14-16; Salmo 24 (25), 1Ts 3, 12-4,2; Lc 21, 25.28.34-36
Nos tempos antigos,
considerando as dificuldades dos caminhos por terra e pelo mar, era muito
difícil precisar exatamente a chegada de algum visitante ilustre; eis porque a
espera muitas vezes se fazia carregada de expectativa: a visita poderia ocorrer
a qualquer momento dentro de um prazo razoavelmente fixado. Era preciso estar
preparado para a iminência da chegada, a qual poderia ocorrer inesperadamente.
Neste domingo, com o
início do tempo do advento, começa um novo ciclo litúrgico, mais precisamente o
Ano C, onde a Igreja nos propõe a leitura semi-continuada de um dos evangelhos
sinóticos, o evangelho de Lucas.
Com o primeiro domingo do
advento, a Palavra de Deus nos coloca diante da realidade última de nossa vida.
Nesse sentido é muito eloqüente a Oração do dia proposta pelo missal para a
missa deste domingo: “Deus todo-poderoso, concedei a vossos fieis o ardente
desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras
ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos
justos”.
A realidade última, ou a
promessa de vida mesmo depois da morte não é algo separado desta vida, como a
própria oração da missa nos recorda: só entra na vida aquele que motivado pelo
“desejo ardente” de estar em comunhão com Deus, começa desde já, ainda nesta
vida, a ter uma atitude digna do nosso Deus, que ama sem medida. Assim como
Deus nos ama, somos chamados a “amar desde agora o que é do céu e, caminhando
entre as coisas que passam, abraçar as que não passam” (Oração depois da
comunhão), pois deste modo entramos em comunhão com os irmãos e com Deus.
Na primeira leitura da
profecia de Jeremias, Deus nos fala de uma promessa. Deus se compromete com seu
povo oferecendo-lhe a salvação. Essa salvação brotará misteriosamente do
próprio povo; é a menção à estirpe de Davi. Essa ideia do “broto’, nos traz à
mente a imagem da árvore. No natal, são muitas as famílias e as comunidades que
montam a sua árvore de natal.
Qual o sentido dessa
árvore, desse sinal?
Historicamente, a árvore
de natal entra nas tantas boas tradições eclesiásticas provavelmente através do
ambiente do norte Europeu. Na Europa do norte, o frio intenso de dezembro mata praticamente
quase todas as plantas. Sobrevivem normalmente apenas os pinheiros. Para muitos
povos, o pinheiro era um símbolo de vida que se sobrepõe à morte. Era o símbolo
do desejo humano de viver para além da morte.
Gosto de pensar que
colocar a árvore de natal em nossos lares nos põe diante de nossa árvore
genealógica, de nossa árvore da vida e de nossa ligação com toda a humanidade.
A Sagrada Escritura nos
diz que é dessa árvore de toda humanidade que brotarão os elementos mais belos
que normalmente muitas árvores produzem; quem não se lembra de uma famosa
cantiga brasileira: “da vara nasceu a flor; da flor nasceu Maria e de Maria,
nasceu o Salvador”.
Colocamos muitas vezes no
alto de nossas árvores natalinas uma bela estrela. Muitos dizem que é uma
alusão à estrela de Belém. Particularmente gosto de pensar que essa estrela –
lembrando aqui da profecia de Balão no AT – é o Cristo Senhor. Ele é que é o
melhor fruto que nossa humanidade poderia oferecer ao Pai: “Revestido da nossa
fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e
abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda
vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes
esperamos” (Prefácio do Advento I).
De fato, essa esperança de
uma salvação que se realizará mediante a intervenção de Deus em nossa
humanidade está bem expressa também pelo salmo responsorial: “Vem, Senhor, nos
salvar! Vem, sem demora, nos dar a Paz!”.
No Evangelho, a linguagem
apocalíptica pode muitas vezes nos induzir à interpretações pouco ligadas à
realidade. Não são poucos aqueles que em nossa sociedade tem mais fé num final
catastrófico da humanidade do que em sua transformação final. A vinda do
Senhor, como o versículo da aclamação ao evangelho nos recorda, está associada
à sua grande compaixão. É preciso, porém, estar atentos aos sinais de sua
visita: o Senhor pode nos visitar de muitas maneiras; pode nos visitar no pobre
da rua; nos visitar no doente que reclama nossa visita; nos visitar no momento
de nossa morte e, de modo particular hoje, ele no visita nesta celebração.
Sugestões:
Neste tempo de advento seria muito
interessante se pudéssemos aproveitar os elementos que nos ajudam a intensificar
nossa espera do Senhor que vem: a oração da Liturgia das Horas em comunidade, a
oração pessoal mais intensa, a lectio
divina, a novena de natal, a coroa do advento, a piedade mariana, a
confecção do presépio e da árvore de natal em nossas casas, praticar mais
fortemente a solidariedade com o próximo...
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