
SOLENIDADE DE NOSSO
SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO – ANO B
* Por Gabriel Frade
Leituras:
Dan 7,13-14, Salmo 92 (93), Ap 1,5-8, Mc 11,9.10
Em 1925, o papa Pio XI através da
Encíclica Quas primas[1]
institui pela primeira vez na Igreja a festa de Cristo Rei do universo. Logo no
início do documento o Papa chama a atenção sobre a difícil conjuntura daquele
momento histórico e apresenta o reconhecimento da realeza de Cristo como melhor
remédio à situação de então. O papa se referia aos eventos que iriam desembocar
no trágico episódio dos regimes totalitários europeus e, consequentemente, da
Segunda Guerra Mundial.
Na reforma litúrgica do Concílio
Vaticano II essa Solenidade foi mantida, mas desde então, passou
apropriadamente a encerrar o Ano Litúrgico. Isso porque seu conteúdo se
coadunava com o teor do último domingo do tempo comum, onde a escatologia, isto
é, o discurso sobre as realidades últimas da história, era enfatizado.De fato, já na antífona de entrada da missa do dia, o mistério celebrado está bem enunciado: Cristo é apresentado como “o Cordeiro que foi imolado, digno de receber o poder e a glória através dos séculos” (cf. Antífona de Entrada).
A Oração do dia também nos coloca
diante do senhorio de Cristo, preparando-nos à acolher a sua Palavra
libertadora: “Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as
coisas no vosso amado Filho, Rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa
majestade, vos glorifiquem eternamente”. (Oração do dia).
A primeira leitura de Daniel nos
mostra a figura enigmática de “alguém semelhante a um filho do homem”, alguém a
quem será entregue todo o poder e que terá um reino sem fim. No judaísmo
antigo, essa passagem era atribuída à figura do Messias. O Messias seria aquele
que conduziria Israel ao seu destino final com Deus e que tudo restauraria com
a sua chegada. Sem dúvida, essa visão do profeta foi mais tarde interpretada
pelo cristianismo como uma alusão ao Cristo, o Messias esperado há tanto tempo
por Israel.
Na segunda leitura o livro do
Apocalipse, escrito muito provavelmente para a comunidade cristã em situação de
perseguição pelas autoridades romanas, reflete a esperança no “Senhor do
Universo”, naquele que com seu sangue “vítima pura e pacífica, realizou a
redenção da humanidade” (Prefácio Cristo, Rei do Universo). Embora a comunidade
cristã vivenciasse os muitos senhores em meio ao mundo pagão, o único Senhor
capaz de dar sentido de fato à sua história, de fazer da comunidade “um reino
de sacerdotes para Deus”, capaz de lhe dar a vida é o Senhor Jesus, aquele que
é o “alfa e o ômega”, o “compêndio” de toda história humana.
No evangelho, Cristo se apresenta como
Rei. Não um rei humano qualquer, limitado pelos anseios do poder temporal e que
quer a todos impor sua vontade, mas um Rei que oferece um reinado de “verdade e
vida, santidade e graça, justiça, amor e paz” (cf. Prefácio Cristo, Rei do
universo). Um Rei que revela todo o seu amor pela humanidade na sua total
auto-doação na cruz – “Este é o rei dos judeus!” (Mt 27, 37).
É ele quem pode de fato nos libertar
da escravidão e nos conduzir à vida eterna.
Ao terminar estas linhas confrontei-me
mais uma vez com a triste história da escalada da violência na cidade de São
Paulo. Hoje foi divulgada, por um dos jornais paulistas[2], a
morte de uma jovem católica, militante de um grupo antiviolência. Que Cristo
Rei da Paz possa consolar os familiares de todos aqueles que sofreram e sofrem
violência e que Ele continue inspirando a todos os homens e mulheres de boa
vontade na busca por uma vida em abundância, onde a justiça e a paz estejam de
braços dados com o amor.
[1] Do latim, “Na primeira...”; são as
primeiras palavras da Encíclica e dão nome a todo o documento. Uma versão em
espanhol do documento pode ser encontrada no site do Vaticano: http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_11121925_quas-primas_sp.html
[2] Ver http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1189870-militante-antiviolencia-e-morta-com-tres-tiros-em-chacina-em-sao-paulo.shtml