22º DOMINGO DO TEMPO COMUM
* Por Gabriel Frade
“Senhor, sois bom e clemente, cheio de misericórdia para aqueles
que vos invocam” (cf. Antífona de entrada).
A Palavra de Deus dirigida a nós
neste Domingo é um forte convite a seguir os caminhos do Senhor.
Muito chama nossa atenção a admoestação
que Moisés faz ao povo: “Nada
acrescentareis ao que vos ordeno, e nada tirareis também: observareis os
mandamentos de vosso Deus tais como vo-los prescrevo” (Primeira leitura: trad.
Bíblia de Jerusalém). Essa afirmação é dirigida também a cada um de nós.
Porventura não teremos também nós tentações de instrumentalizar a Palavra de
Deus em nosso favor ou em favor de situações que eventualmente podem não agradam
a Deus? Quantas vezes gostamos de aproveitar apenas aquelas partes da Palavra
de Deus que nos convêm?
Que não nos aconteça de nos
considerarmos os “donos” da Palavra de Deus.
Ser “dono” da palavra significa, por
exemplo, tomar atitudes de arrogância em relação à Sagrada Escritura, como a
atitude de nos considerarmos como os únicos que saibam interpretar o texto
Sagrado, ou ainda: talvez sejamos como aqueles que, eventualmente, se orgulham em
conhecer a Palavra de cor e salteado, mas que na prática permanecemos longe de
experimentá-la em nossa própria vida.
A Palavra nos exorta a entrarmos na
humildade, a experimentarmos que os preceitos do Senhor não são “algemas” ou
“pesos” que nos deixam a vida mais amarga. Antes, a escuta atenta da Palavra, e
o seu colocar em prática (ver o Salmo responsorial), é a possibilidade de fazer
experiência da comunhão profunda com Deus, afinal: “Qual a grande nação cujos deuses lhe estejam tão próximos como o
Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?” (Primeira leitura:
trad. Bíblia de Jerusalém).
A segunda leitura nos deixa claro que
receber a Palavra em atitude de humildade é experiência de transformação de
nossa vida: “...recebei com docilidade a
Palavra que foi plantada em vossos corações e é capaz de salvar vossas vidas!”.
A Palavra nos é apresentada como um
dom de Deus, como um bem em favor de nossa salvação: “Deus do universo, fonte de todo bem, derramai em nossos corações o
vosso amor e estreitai os laços que nos unem convosco para alimentar em nós o
que é bom e guardar com solicitude o que nos destes” (Oração do dia).
A graça que nos é dada na proclamação
da Palavra deve, porém, encontrar-se com a nossa reposta livre para que a gratuidade
de Deus possa agir: “Mas aquele que
considera atentamente a Lei... e nela persevera, não sendo um ouvinte
esquecido, antes, praticando o que ela ordena, esse é bem-aventurado naquilo
que faz”. (Segunda leitura: trad. Bíblia de Jerusalém).
No Evangelho, Jesus logo depois dos
episódios da multiplicação dos pães e dos peixes, se vê diante de um grupo de
judeus que não tem coragem de atacá-lo diretamente. Atacarão, portanto, seus
discípulos sobre a questão da pureza ritual.
Na época de Jesus, sabemos que o
grupo dos fariseus se apegava à chamada “tradição dos antigos”, era um conjunto
de leis e normas transmitido pelos rabinos de geração em geração através da
oralidade. Segundo os estudiosos, esse conjunto de leis continha 613 artigos
(número igual à quantidade de letras hebraicas que formam o texto do decálogo).
Essas leis, formadas na tradição dos
mestres, eram entendidas por esse grupo religioso como caminho seguro para
agradar a Deus, infelizmente também criavam no povo um sentimento de
impossibilidade de cumprir a Lei, já que este não tinha condições de conhecer todos
as minúcias desses preceitos.
Jesus vai ao centro da questão: os
fariseus, para se fazerem grandes diante dos homens, valorizavam essas normas
recebidas pelos mestres, dificultando o acesso à experiência de comunhão com
Deus. Ao colocar o problema somente no exterior, os fariseus deixavam de
cumprir o que a Deus importava.
Jesus nos coloca diante da justa
perspectiva: é preciso mudar antes de tudo o coração do homem. Esse coração que só poderá mudar quando
perceber o imenso amor que Deus nutre por toda a humanidade. (cf. Oração do
dia).
Neste Dia dedicado à reflexão sobre a
Palavra de Deus, façamos memória de um servo da Palavra: o Cardeal Carlo Maria
Martini, arcebispo de arquidiocese de Milão falecido na sexta feira, dia 31 de
agosto. O Cardeal Martini, biblista de longa data e amante da Palavra, teve
várias iniciativas em sua diocese dedicadas à Palavra de Deus. Notabilizou-se
pelo diálogo, especialmente com os não crentes e viveu uma vida a serviço do
Evangelho.
O Papa Bento XVI em sua despedida
disse estas palavras a respeito do Cardeal jesuíta:
“Penso também ao competente e fervoroso serviço que ele prestou
à Palavra de de Deus, abrindo sempre mais para a comunidade eclesial os
tesouros da Sagrada Escritura, especialmente através da promoção da Lectio Divina”.
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