Leitura Orante – 2º domingo
do Advento, 04 de dezembro de 2016
ADVENTO: tempo de nutrir-se interiormente
“O machado já está próximo à raiz das árvores, e toda árvore
que não produzir fruto bom será cortada...” (Mt 3,10)
Texto Bíblico: Mt
3,1-12
1 – O que diz o texto?
Neste 2º. Domingo de Advento, os profetas Isaías e João tem
a palavra. A palavra de um profeta nunca é fácil de aceitar porque move a
mudar, e isso não tem muita ressonância em nosso interior.
O profeta é o homem que vê um pouco mais além, ou mais
profundamente que o restante dos mortais. Essa vantagem nasce de sua atitude de
discernimento; ele não se contenta ou não se conforma com o que vê ao seu redor
e busca algo novo. Essa novidade ele a encontra em sua própria interioridade, e ali percebe as
exigências que seu verdadeiro ser pede, para ele e para todo ser humano.
À luz das profecias, o Advento nos revela que somos seres de
enraizamento e de horizontes, de interioridade e de universalidade...
O desafio consiste justamente em manter juntos o enraizamento e o horizonte.
Encarnados, mas abertos à transcendência.
Nesse sentido, transcender
não significa fugir da própria realidade, mas mergulhar na própria condição
humana; “transcender é humanizar-se”.
2 – O que o texto diz para mim?
O profeta é a
figura chave neste tempo de Advento. Não se trata de um adivinhador do futuro;
tampouco devo pensar em um ser humano separado dos demais, que, por eleição
especial, Deus vai lhe indicando o que é preciso dizer aos outros. Profeta é
todo aquele que está desperto e com os olhos
bem abertos.
Ele não é um porta-voz enviado a partir de fora, é sempre um
explorador do “interior humano” e
que tem a valentia de viver a partir das raízes
profundas de seu ser.
As leituras do domingo passado: velar, vigiar e estar
desperta.
Hoje falam aqueles que estiveram nessa atitude de
sentinelas: os profetas.
Situados em posições estratégicas, descobrem no horizonte a
presença de sinais de vida ou de morte. Assim se convertem em vigias e
mensageiros.
Sou convidada, neste tempo litúrgico, não apenas a me
expandir e a voar para o alto, mas, fundamentalmente, a descer e a buscar o
chão onde me enraízo.
Por um lado, ter horizontes
me faz romper barreiras e ultrapassar os limites, impulsionando-me à busca
permanente do novo e do inspirador.
Por outro lado, vou tomando consciência que no mais profundo
de meu ser encontram se as raízes
que devem sempre ser alimentadas e avivadas, pois são elas que sustentam o
ponto de partida para o novo, para uma verdadeira mudança e conversão.
É da minha interioridade que “há de vir” (advento) as
possibilidades e os recursos que farão minha vida mais aberta e oblativa,
semelhante à vida d’Aquele que “desceu” até às profundezas da condição humana.
No tempo do Advento,
tomo consciência que a raiz de meu
ser essencial constitui minha autêntica vida. Descobri-la, alimentá-la e viver
a partir dela constituem a plenitude de minha realização.
Preciso viver mais nas
raízes de meu ser; preciso aprender a viver de uma maneira mais
profunda e autêntica, a partir do núcleo mais íntimo de meu ser.
E viver a partir de meu ser essencial significa integrar e harmonizar todos os
níveis de minha pessoa: corpo, mente, afetividade, coração... com a fonte
de minha vida.
Trata-se de descer em profundidade, de encontrar o meu centro,
aquele ponto de gravidade por onde passa o eixo do meu equilíbrio pessoal.
Advento, tempo das raízes!
Tempo oportuno que me mobiliza a descer ao meu chão existencial, a olhar o mais profundo
de mim mesma e da realidade que me cerca, para descobrir ali os ricos recursos
de vida que ainda não foram ativados.
O novo vem das raízes,
vem de baixo, da base, do chão.
A fecundidade tem
lugar no oculto, nas entranhas da terra.
4 – O que a Palavra me leva a falar com Deus?
Senhor, um “chão”
é sempre mais que um simples chão: cada chão
revela lembranças, referências, medos, saudades...; cada chão guarda histórias, presenças e tem força de memória. Há vida,
pessoas, caminhos, acontecimentos, experiências...
Chão amplo é
convite a sonhar alto, a pensar grande, a aventurar-se..., ousar ir além,
derrubar meu modo arcaico de proceder, romper com os espaços rotineiros e
cansativos.
‘Chão humano e
humanizante” porque carregado da presença divina.
Cada pessoa é autêntico chão
da eterna presença de Deus.
A verdadeira nobreza do ser humano: desejar, uma força
latente, como uma energia fundamental, que o impulsiona a viver, que o ajuda a
crescer e a melhorar continuamente, que aumenta a sua capacidade de resistência,
que o estimula a alcançar aquilo que é o sentido de sua própria existência: a
verdade, a liberdade, o bem, o amor...
Com a presença desta força interior, eu me sinto guiada e sustentada no caminho
da maturidade humana, proporcionando-me saúde física, lucidez mental e limpidez
afetiva. É esta força que comanda os melhores momentos de minha vida como um
princípio ativo, dinâmico, criativo...
É decisivo saber descobrir e canalizar essas energias
espontâneas, capazes de promover a integração e que são facilitadoras de
mudanças frente à finalidade da minha vida.
5 – O que a Palavra me leva a viver?
O Advento me faz
lançar raízes no mais profundo de minha condição humana e despertar todas as
energias criativas, todas as grandes motivações adormecidas, toda bondade aí
presente, toda decisão de assumir como cooperadora de um novo tempo.
Das raízes profundas brotam as respostas mais criativas e
duradouras; das entranhas abertas emergem dinamismos que me levam a ser
presença inspiradora e diferente no contesto onde vivo.
A experiência cristã, portanto, implica “mergulhar os pés na
terra”.
Expressões do meu cotidiano como “pôr os pés no chão”,
“estar com os pés na terra”, significam enraizar-me e comprometer-me com a
realidade que me afeta.
Na vivência do Advento
sou convidada a mergulhar os pés no
“chão da vida”, como as raízes mergulham na terra de modo profundo, silencioso
e lento.
Aqui, o caminho para Deus implica “descer” ao meu próprio chão e viver em sintonia com todas as
expressões de vida, numa fraternidade universal.
Subo, rumo ao Transcendente, quando desço ao meu chão.
O movimento de enterrar profundamente as raízes possibilita
alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio.
A profundidade do enraizamento torna-se plataforma para
poder alçar vôo e ir além dos meus limites e interesses estreitos, rumo ao Todo infinito.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas: Mt 3,1-12
Pe. Adroaldo Palaoro, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: Shekinah - Emanuel fx: 01 (4:21)
Autor: Pe. Zezinho, scj
Intérprete: Pe. Zezinho, scj
Coro: Trio Ir ao
Povo, Adriana Melo e Ricardo Moreno
CD: Deus nos visitou - Shekinah
Gravadora: Paulinas
Comep