Leitura Orante – 11º domingo do tempo comum, 12 de junho de
2016
Jesus,
pura transparência do rosto misericordioso do Pai.
“Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai”. (Papa
Francisco – Misericordiae Vultus)
Texto Bíblico: Lc 7,36-50
1 – O que diz o texto?
A presença misericordiosa de
Jesus aparece claramente no jantar em casa do fariseu Simão.
O relato de Lucas põe em
confronto duas maneiras diferentes de reagir perante a “mulher pecadora”: uma,
de acolhida e proximidade; outra, de julgamento e distância.
Uma mulher, pecadora pública,
aparece inesperadamente no jantar na casa do fariseu, sem ter medo do que dirão
a respeito dela. Há nela como uma espécie de ansiedade e desejo de sair daquela
situação; há nela uma necessidade de sentir-se pessoa, de sentir-se mulher de
verdade, de recuperar sua dignidade, de sentir-se livre.
Busca alguém que não a veja como
simples objeto de prazer; busca alguém que saiba reconhecê-la como pessoa, que
possa devolver-lhe sua dignidade. E não se importa com as reações de
julgamento. Prostra-se aos pés de Jesus, derrama o perfume que possivelmente
era fruto do seu pecado. Lava os pés de Jesus com suas lágrimas de angústia e
confiança ao mesmo tempo, antecipando o gesto que Jesus realizará na última
Ceia. Seca-os com seus cabelos como expressão de sua esperança.
Jesus revela-se um convidado perigoso,
porque é capaz de desvelar o que está encoberto.
Sua presença cria problemas para o anfitrião, coloca em
risco o seu prestígio, a sua reputação.
“Eu entrei em tua casa e não me
ofereceste água para os pés...
Tu não me beijaste... Tu não
derramaste óleo em minha cabeça”.
Aquele fariseu tinha muitas
coisas para dar a Jesus, mas não lhe deu nada de amor; aquela mulher não tinha
nenhuma coisa que dar-lhe, mas lhe deu o melhor: muito amor. O fariseu não
esperava nada de Jesus, aquela mulher esperava tudo d’Ele. Aquele fariseu e os
demais convivas a julgam como pecadora pública, mas Jesus a reabilita diante
deles; Ele a acolhe com respeito e ternura. Descobre em seus gestos um amor
limpo e uma fé agradecida. Diante de todos, fala com ela para defender sua
dignidade e revelar-lhe como Deus a ama.
2 – O que o texto diz para
mim?
Jesus é capaz de reconstruir o
que os outros haviam destruído; é capaz de devolver a alegria a uma mulher que
os outros tinham tirado; é capaz de dar a vida àquela que os outros deram
morte.
Jesus não se fixa na vida passada
da mulher; por isso, não a julga, pelo contrário, valoriza todos os seus gestos
de acolhida e ternura. Não importam “seus muitos pecados”, mas o amor de seu
coração.
Jesus não é daqueles que se
entretém contabilizando pecados; Ele é daqueles que olha o coração do pecador;
e quando descobre amor, aí mesmo perdoa. Porque a melhor expressão de amar é
perdoar; a melhor expressão de sentir-se perdoado é sentir-se amado.
O perdão não é um problema de
justiça; o perdão é algo que nasce do amor; o perdão é fruto da compreensão, da
misericórdia.
O comportamento de Jesus era
diametralmente oposto ao do fariseu e dos seus convivas: todas as mulheres que
se encontraram com Ele sempre saíram reabilitadas, até o ponto de chegarem a se
converter em protagonistas do fato mais importante de Sua vida, a ressurreição.
3 – O que a Palavra me leva a
experimentar?
Jesus propõe um modo de ser
humano inseparável da misericórdia do Pai:
“Sede misericordiosos como o Pai
é misericordioso” (Lc. 6,36)
Ser misericordioso “como” Deus
constitui o mais elevado convite e a mensagem mais profunda que o ser humano
recebe sobre como tratar a si mesmo e aos outros.
O Papa Francisco diz: “A
misericórdia de nosso Senhor se manifesta sobretudo quando Ele se inclina sobre
a miséria humana e demonstra sua compaixão, para quem necessita de compreensão,
cura e perdão. Tudo em Jesus fala de misericórdia; mais ainda, Ele mesmo é a
misericórdia”.
Jesus desmascara a maneira
medíocre de amar do fariseu, desprovido de compaixão e calculista no
julgamento. O fariseu perfeito tem comportamento frio, legalista, insensível,
indiferente, rígido.
O perfeccionista e o legalista é
um ser anestesiado e petrificado: nele a misericórdia permanece atrofiada; ele
ficará confinado dentro de um eu inchado e vazio, que caminha sobre pernas de
barro.
Onde o legalismo prevalece, ali a
misericórdia não encontra espaço para reconstruir relações quebradas.
Por isso, Jesus revela o abismo
que existe entre a posição em que o fariseu se encontra e a da mulher que,
através de tantos gestos afetivos, expressa sua ternura e humanidade.
4 – O que a Palavra me leva a
falar com Deus?
Senhor, Jesus, com sua presença
desconcertante, relativiza costumes, ritos e práticas religiosas, inclusive o
Templo, e se relaciona com gente excluída e de má reputação. Ele faz muitas
coisas e em muitos lugares (ensina, cura, denuncia, alimenta, dialoga...), mas
a misericórdia é a que inspira e move tudo em sua vida e ação. Sente a fundo o
sofrimento das pessoas; antes de preocupar-se com o pecado, preocupa-se em
aliviar a dor da marginalização e exclusão.
A linguagem de Jesus para aquelas
pessoas que praticavam uma religiosidade vazia, só ritual e elitista, era muito
dura e crítica.
A maioria das religiões dá muita
importância ao cultual, às cerimônias, aos ritos. Gastam muito dinheiro em
objetos, roupas, ornamentos, imagens, ostentações..., mas o compromisso com os
grandes valores do Evangelho, que são o essencial da mensagem de Jesus, fica
ofuscado ou esquecido. É urgente retornar à fonte do Evangelho, onde a
misericórdia é o atributo essencial e o modo de proceder de todo seguidor de
Jesus.
5 – O que a Palavra me leva a
viver?
Este “princípio-misericórdia” é o
que há de iluminar e conduzir a vida dos seguidores de Jesus, e da Igreja como
comunidade misericordiosa.
A misericórdia é, pois, um
sentimento profundo e dinâmico, que não permite que quem o sente permaneça
imóvel ou passivo diante de tanto sofrimento que há na humanidade. Ela é a alma
da solidariedade, da ação social, do compromisso com a justiça...
Por um lado, a misericórdia é
propriamente a atitude permanente que se revela em qualquer situação, sempre
que há fraternidade e amor, e por outra parte, a misericórdia é a compaixão
para com a pessoa que sofre. Uma atitude profunda, uma comoção do coração, que
conduz a atos de solidariedade...
Tornar presente o Pai como Amor e
Misericórdia foi, para Jesus, o cerne de sua missão: toda a sua vida foi uma
eloquente demonstração da misericórdia divina para com a humanidade.
“Jesus
Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece
encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva,
visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. Com
a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a
misericórdia de Deus”. (Papa Francisco – Misericordiae Vultus)
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas:
Lc 7,36-50
Pe. Adroaldo, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: Um processo no templo – fx04 (5:22)
Autores: Ir. Maria Luiza Ricciard – Luiz A. Karam
Intérpretes: Paulinho Campos –
Rita Kfouri
CD: Encontro com Jesus – Canções Bíblicas
Gravadora: Paulinas Comep
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