Leitura Orante – domingo de Ramos, 20 de março de 2016
RAMOS: A CAMINHO DA JERUSALÉM INTERIOR
“... Jesus ia
adiante, subindo para Jerusalém” (Lc. 19,28)
Texto Bíblico: Lc
19,28-40
1 – O que diz o texto?
A vida de Jesus é uma grande
subida a Jerusalém; e nesta subida, segundo os relatos evangélicos, Ele desconcertou a todos.
Evidentemente, desconcertou as pessoas mais piedosas e observantes da religião
judaica: fariseus, escribas, sacerdotes, anciãos... Não só Jesus foi a pessoa
mais desconcertante de toda a história, mas nele aconteceu algo também
desconcertante. Ele desencadeou na história da humanidade um “modo de viver”
que quebrou toda estrutura petrificada, sobretudo religiosa, constituindo um “movimento” ousado que colocava o
ser humano no centro.
Um movimento alternativo às
instituições romanas e à organização sacerdotal do judaísmo; um movimento
“marginal” que dava prioridade aos pobres, aos deslocados, aos doentes e
excluídos, aos perdedores... e que não tem nada a ver com uma organização fundada
no poder, no prestígio, na riqueza...
Este movimento, desencadeado na
Galiléia, chega agora às portas da “cidade santa” , Jerusalém.
Aquele homem que movia multidões
por todo o país, por sua pregação e milagres, não é um revolucionário violento.
E, no entanto, nem por isso deixa de ser inquietante, transgressor e perigoso.
Jesus foi assim e assim Ele
viveu; todo o resto lhe sobrava (leis, culto, templo, estrutura religiosa...).
2 – O que o texto diz para
mim?
Jesus queria entrar na cidade das
contradições humanas oferecendo uma mensagem de pacificação e um programa de
libertação, correndo o risco de encontrar a morte imposta por aqueles que
resistiam a qualquer mudança na estrutura social-política-religiosa de seu
tempo. De fato, Jerusalém é a cidade
controlada por aqueles que detinham o poder religioso que, aliado aos romanos,
não reconheciam n’Ele o profeta do Reino e não acolheram a salvação que Ele
trazia.
Jesus queria levar vida a uma cidade que carregava forças
de morte em seu interior. Ele queria por o coração
de Deus no coração da grande cidade; desejava reativar a tão sonhada nova
Jerusalém, a cidade cheia de humanidade, espaço de acolhida e comunhão, luz dos
povos, onde todas as nações se encontrariam. Mas Ele encontra uma cidade
petrificada, fechada em seus ritualismos, intolerante e resistente à proposta
de vida que trazia.
3 – O que a Palavra me leva a
experimentar?
Durante o tempo Quaresmal e
Semana Santa as agências de turismo costumam fazer muita propaganda de
Peregrinações à Terra Santa. Mesmo que eu não seja turista e nem peregrina, tenho,
sim, que transitar por Jerusalém durante estes dias. Não posso ir ali
simplesmente como quem vai assistir algumas procissões famosas de Semana Santa;
não posso ir a Jerusalém de uma maneira indiferente, porque em Jerusalém é preciso
“tomar partido”. Ou sou uma personagem da Paixão ou não sou nada; ou me
identifico ou serei meramente estranha; ou estou com Ele ou com aqueles que
tramam a sua morte.
Fazer memória da Paixão de Jesus
pode ser uma ocasião privilegiada para transitar por minha Jerusalém interior, um bom espaço onde encontrar a mim mesma,
identificar-me com os diferentes personagens e sentir-me parte daquela
história. O relato da Paixão de Jesus revela ser também a minha história.
Porque, afinal de contas, é uma história que aconteceu no passado e continua
acontecendo também hoje em minha interioridade. E é a partir do hoje que eu
tenho de vivê-la, numa atitude contemplativa. E é a partir de mim, e não a
partir daqueles personagens de então, que terei de assumi-la.
4 – O que a Palavra me leva a
falar com Deus?
Senhor, domingo de Ramos me
motiva a fazer o percurso em direção à minha Jerusalém interior. Mas, para descer em direção a esta cidade é
preciso despojar-me da vaidade, do prestígio e do poder, montado no jumentinho
da simplicidade.
Minha Jerusalém interior é também
lugar das contradições e ambiguidades; ali dentro experimento a trama de
relações conflitivas, ali me deparo com as angústias, carências e dúvidas...
Preciso cuidar o coração da minha
“Jerusalém interior”, esvaziá-la, limpá-la, aquecê-la, transformá-la em humilde
e acolhedor espaço, para que o Espírito do Senhor possa aí descer e habitar,
transmitindo-lhe vida, luz, calor, paz, ternura...
Preciso voltar a pôr o “coração
de Deus no coração de minha Jerusalém”. Faz-se necessária uma opção corajosa,
como Jesus, para entrar e estar no interior de minha Jerusalém, para aí
descobrir o verdadeiro coração de Deus, que pulsa no ritmo dos excluídos, dos
sofredores, dos sedentos.
Preciso aprender a integrar meus
conflitos da cidade interior para convertê-los em vida nova a partir do
silêncio, e é preciso percorrer as ruas descoloridas e violentas do espaço
interno. Meu zelo e amor pelo Evangelho e pela semente do Reino que nele está
contida, há de favorecer o advento de uma “nova Jerusalém”, cheia de humanidade
e comunhão, de justiça e de fraternidade.
Preciso aprender a ler a minha
Jerusalém com os olhos pacientes, misericordiosos, fecundos, cordiais...
Ali reconhecer também a presença
das beatitudes originais que habitam o meu coração; ali sentir a força da ação
do Espírito em cada canto desta cidade e em cada rosto que encontrar; ali terei
acesso a outros recursos e possibilidade de vida que ainda não foram ativados.
5 – O que a Palavra me leva a
viver?
Nesta nova cidade interior,
cristificada pela entrada do Mestre de Nazaré, serei mobilizada a abrir a porta
de minha casa para estar sempre pronta a acolher os desafios que vem de fora.
Ao mesmo tempo, entrar na minha
Jerusalém me faz consciente de que sou ser em movimento, protagonista de
mudança, capaz de criar novo modo de existir, de romper com o instituído e
buscar o diferente, o novo, o desconhecido... É o espaço das inovações, dos
riscos, dos experimentos e da busca do novo. Nele se encontra o lugar dos
sonhos, dos desejos, da liberdade e autonomia.
A minha Jerusalém interior é um espaço sempre em expansão. O Evangelho
ilumina a vida de minha cidade e pede atitudes novas, propostas ousadas... Em
meu coração urbano há um oásis que
regenera: continuamente devo retornar a este oásis se não quiser que minha vida
se transforme em permanente deserto; é neste oásis que busco o sentido, o
descanso, o gosto por viver.
Jerusalém é missão: é preciso “descer” em direção às periferias da minha
Galiléia e ali prolongar a atividade criativa e libertadora de Jesus. Posso,
então, atribuir à minha cidade interior esta afirmação de G. Dimenstein: “A
bela cidade não é aquela que tem necessariamente as melhores paisagens, mas
aquela em que a criatividade é a melhor paisagem”.
Hosana a Jesus! Que chegue a
Páscoa! Que venha a vida!
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas:
Lc 19,28-40
Pe. Adroaldo, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: Sempre sol nascente - fx
11 – 04’:16” - Autor: Pe. Zezinho, scj -
Cd: Quem é esse Jesus - Gravadora: Paulinas Comep
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