Leitura Orante – 4º domingo
da quaresma, 06 de março de 2016
“PRINCÍPIO MISERICÓRDIA”: Amor em excesso
"Depressa, trazei a melhor
roupa e vesti-o; ponde um anel em seu dedo e sandálias nos pés; trazei o
bezerro cevado e matai-o; festejemos com um banquete, porque este meu filho
estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado." (Lc 15,22-23 )
Texto Bíblico: Lc 15,1-3.11-32
1 – O que diz o texto?
Na parábola de hoje, o pai
aparece sempre como alguém que contraria as expectativas dos ouvintes, que vai
contra a visão de Deus daquele que está habituado à lei do “olho por olho,
dente por dente”.
Os escribas e fariseus não podiam
suportar que Jesus proclamasse que Deus acolhe e perdoa incondicionalmente a
todos, que tem um carinho especial, um amor de predileção pelos perdidos; um
Deus que vai ao encontro dos perdidos e que transborda de alegria quando os
encontra.
A parábola do Pai Misericordioso condensa toda a
história de nossa salvação. Ela contém a quinta-essência do Evangelho do Reino
do Pai proclamado por Jesus, a história do amor de Deus para com a humanidade.
O que Jesus quis proclamar ao contá-la foi que o amor, a misericórdia, o perdão
e a comunhão são oferecidas por Deus aos “perdidos”.
A misericórdia constitui a resposta de
Deus à indigência do ser humano: ela recria a vida, pois, a força criativa da sua misericórdia põe em movimento os grandes dinamismos de nossa vida; debaixo do
modo paralisado e petrificado de viver, existe uma possibilidade de vida nova nunca ativada.
Deus, em sua misericórdia reconstrutora,
libera em nós as melhores possibilidades,
riquezas escondidas, capacidades, intuições... e nos faz descobrir em nós,
nossa verdade mais profunda de pessoas amadas, únicas, sagradas, responsáveis...
A misericórdia
é expansiva, ela abre um novo futuro e desata ricas possibilidades latentes
em cada um. Ela não se limita ao êrro, mas impulsiona cada um a ir além de si
mesmo.
2 – O que o texto diz para
mim?
O comportamento de Jesus é uma “parábola viva” do
comportamento de Deus com os pecadores.
O que escandalizava os
destinatários das parábolas da Misericórdia (Lc 15) contadas por Jesus, que se
consideravam justos e cumpridores exemplares da Lei, não era propriamente a
conduta dos pecadores, mas a conduta do próprio Jesus com relação a eles; Ele,
rosto visível da misericórdia, permite que os pecadores se aproximem dele,
recebe-os de coração aberto, toma a iniciativa de ir ao encontro deles e
senta-se com eles à mesma mesa.
O “princípio misericórdia”, portanto, é o
núcleo do Evangelho. E a misericórdia é o “amor
em excesso”. Na misericórdia, Deus sempre me surpreende,
sempre excede minhas estreitas expectativas, para abrir caminho a partir de
minhas fragilidades. Só o amor misericordioso de Deus me reconstrói
por dentro, destravando-me, colocando-me em movimento e abrindo-me em direção a
um horizonte de sentido, de responsabilidade e compromisso.
A misericórdia é a parábola da
minha vida, da minha história, dos meus
caminhos.
Ela é, enfim, a parábola da minha
origem e do meu destino.
3 – O que a Palavra me leva a
experimentar?
Longe de uma imagem de um Deus severo, com a lei na
mão pronto para me acusar, Jesus me revela o rosto de Deus Pai-Mãe de infinita
ternura, que se alegra com o retorno de seus filhos à convivência em sua casa.
De fato, no Evangelho de hoje, a volta do filho perdido provoca uma “explosão de alegria” no Pai. Sua alegria era tão intensa que ele não
poderia esperar para dar início à comemoração.
A expressão “depressa”
com a qual o pai exorta seus criados denota que o serviço deve ser executado
sem demora, pois o filho não pode ficar por mais tempo privado de sua dignidade.
As ordens aos empregados são dadas em voz alta para
que todos fiquem sabendo da festa,
para que a sua alegria seja conhecida e partilhada por todos.
Ele convida todos a comer, beber e dançar. Uma
grande festa tem início, mas não tem
fim.
4 – O que a Palavra me leva a
falar com Deus?
Senhor, tão fortemente o pai deseja dar vida a seu
filho mais novo que parece quase impaciente. Nada é suficientemente bom. O melhor precisa lhe ser dado.
Ele ordena que o filho seja imediatamente vestido
com a túnica luxuosa, como a que é
usada nos dias de festa pelos hóspedes ilustres. O filho recupera sua identidade e sua dignidade de filho. O pai lhe dá o anel para honrá-lo como seu filho amado e novamente devolver-lhe a
condição de herdeiro e a plenitude de seus direitos. Com as sandálias, é devolvida ao filho a
condição do homem livre e de senhor da casa.
Mas o Pai não ama só o filho perdido e
reencontrado. Ele ama também aquele que ficou em casa, a seu lado, e que deixou
seu coração endurecer. Ele vai ao seu encontro, vai para pedir que participe da
alegria do reencontro e da festa. Não o deixa na sua solidão e na sua rejeição.
Não acusa seu pecado.
O Pai vai procurar também aqueles
que tem um coração de pedra, invejosos e legalistas. O fato miraculoso não está
só em que o pai não renegou o filho mais moço, e sim que tenha sido
compreensivo com um homem tão duro, frio e rígido como o filho mais velho, e
que continua a chamá-lo de “filho”.
Deus não só tem um coração que ama. Isso já é extraordinário.
Mas também tem entranhas,
uma ternura que se comove. Isso é avassalador.
5 – O que a Palavra me leva a
viver?
A misericórdia
não é só a mais divina mas também a mais humana das virtudes. É aquela que
melhor revela a natureza do Deus Pai e Mãe de infinita bondade. É a que revela
igualmente o lado mais luminoso da natureza humana; nesse sentido, a
misericórdia é a que mais humaniza as relações entre as pessoas.
Por isso, Jesus propõe um modo de
ser humano inseparável da misericórdia do Pai: “Sede
misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc. 6,36)
Ser misericordioso “como” Deus constitui o mais elevado
convite e a mensagem mais profunda que o ser humano recebe sobre como tratar a
si mesmo e aos outros.
Justamente por ser o Evangelho condensado,
esta parábola deve ser incessantemente ouvida e contemplada por mim. E depois
de contemplada e experimentada, devo contá-la, proclamá-la e testemunhá-la,
sempre de novo, a todos os homens e mulheres que Deus ama.
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas:
Lc 15,1-3.11-32
Pe. Adroaldo, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
Sugestão:
Música: A festa da misericórdia Lc
15,11-32 - fx 01 - 04’38” - Autor: Mario
Celli/Ir. M. Luiza Ricciardi, fsp – Intérprete: Emmanuel – Cd: O fascínio das
parábolas do Reino – Gravadora Comep
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