Leitura Orante – 5º domingo do tempo comum, 07 de fevereiro de 2016
ALARGAR ESPAÇOS, SAIR ÀS MARGENS
“Tendo subido em uma das barcas, a de Simão,
pediu-lhe para afastá-la um pouco da terra. (Lc 5,3)
Texto Bíblico: Lc 5,1-11
1 – O que diz o texto?
Uma multidão vinda de todas as partes o seguiu até à beira do lago de Genesaré, e Jesus pediu a seus discípulos que tivessem uma barca preparada, pois o povo o apertava, porque tinha curado a muitos.
Jesus se afasta do centro, da sinagoga e busca as margens do lago. E ali desencadeia um “movimento humanizador”: vida destravada e abundante, horizonte de sentido, relações de comunhão...
2 – O que o texto diz para mim?
Jesus entrou em conflito com o mundo religioso da sinagoga. A Lei, que se expressava em inumeráveis preceitos minuciosos, fragmentava a existência, atrofiava a criatividade e não representava vida nova para o povo. A novidade de Jesus não cabia nos moldes da sinagoga, e começou a buscar outros espaços onde criar a vida expansiva do Reino, elaborar novos sinais e cunhar novas palavras.
O “outro lado”, para Ele, passa a ser terra privilegiada, onde nasce o “novo” por obra do Espírito.
Ali aparece o broto germinal do “nunca visto”, que em sua pequenez de fermento profético torna-se uma denúncia ao imobilismo petrificado e um questionamento à ordem estabelecida. Isso vai gerar uma maneira nova de viver, um estilo de vida, um compromisso diferente, uma ação carregada de ousadia...
3 – O que a Palavra me leva a experimentar?
Encontrando-se em meio a um mundo em efervescência, Jesus lançou por terra as paredes e os muros dos templos e sinagogas e mergulhou no mar espaçoso da vida cotidiana. Ele alcançou sua plenitude humana precisamente porque foi capaz de “transgredir” o que estava estabelecido e abrir-se à universalidade de todas as terras, de todos os povos, sem distinção de raças, condição social... Seu itinerário não foi unicamente geográfico. Mais que um simples deslocar-se, trata-se de um “modo de viver” e de situar-se no mundo. Ele se fez presente nos lugares socialmente rejeitados, lugares de exclusão e da marginalidade, e ali revelou a presença d’Aquele que se faz presente e santifica todos os lugares: o Pai.
4 – O que a Palavra me leva a falar com Deus?
Senhor, do mar da Galiléia ao mar da vida: este é o movimento que Jesus desperta nas pessoas.
Ele continua desafiando a que cada um mergulhe mais fundo no oceano do coração e ali ative os recursos ainda escondidos: novos sonhos, novas possibilidades, nova inspiração, novo sentido para a existência...
Para isso, é preciso vencer o medo que atrofia tudo o que é humano em mim e entrar no movimento expansivo de Jesus.
5 – O que a Palavra me leva a viver?
Jesus, na Galiléia, encontrou os seus lugares: nas margens do lago, junto ao mar, nas estradas poeirentas, nas margens das cidades e montanha...
Jesus transitou livremente por diferentes espaços; o deserto foi para ele um espaço necessário de solidão e de oração, onde, na intimidade com o Pai, alimentava a originalidade de sua pessoa e de sua missão.
Com sua presença inspiradora e provocativa, Jesus alarga os espaços e os corações das pessoas: ao entrar no barco, este deixa de ser simples instrumento de pesca para ser lugar do anúncio; Ele amplia o rotineiro modo de pescar (“lançai as redes em águas mais profundas”); por fim, desafia aqueles rudes pescadores a deixarem aquele atrofiado mar e entrar no vasto oceano da vida (“sereis pescadores do humano”).
Preciso levantar-me cotidianamente de meus “lugares” estreitos e seguros: há sempre um “lugar ferido” que me espera, um “ambiente atrofiado” a ser curado, um “espaço limitado” a ser ampliado...
Deus me chama cada dia, me tira de meu estreito mar, me faz sair do que é meu, da segurança, da comodidade... e me faz entrar numa “terra nova”. A “travessia” ativa e revela o que há de melhor em cada um de nós. Com a presença expansiva e inspiradora serei também capaz de “pescar o humano” que está escondido no outro.
Sou desafiada a “viver uma vida no mundo e no coração da humanidade” (Pe. Kolvenbach).
Fonte:
Bíblia Novo Testamento – Paulinas: Lc 5,1-11
Pe. Adroaldo, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne
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