5º DOMINGO
DO TEMPO COMUM – ANO C
Por Gabriel
Frade
“Farei de vós pescadores de homens!”
Leituras: Is 6, 1-2a.3-8; Sl 137(138); 1Cor
15, 1-11; Lc 5, 1-11
Este 5º domingo do tempo comum nos apresenta, na
liturgia da Palavra, a figura da vocação do profeta. Isaías, provavelmente
ainda um jovem rapaz, tem a visão aterradora da glória divina. Chama a atenção
que essa visão - e o chamamento que Deus faz ao jovem profeta - ocorra num
contexto litúrgico, evocado pela voz do Senhor, pelo canto dos serafins, pela
fumaça do incenso que encheu o templo e a brasa coletada do altar.
É nesse quadro que nosso jovem profeta faz a
experiência de sua pequenez diante de Deus, quando exprime um profundo lamento
pela sua impureza. Aparentemente é justamente por se reconhecer pecador diante
de Deus que Isaías poderá experimentar o dom do perdão gratuito de seus pecados,
através da imagem do tição ardente que lhe toca os lábios.
A título de curiosidade, nosso querido amigo, o
egrégio professor da USP Dr. Benedito Lima de Toledo, ao analisar as estátuas
de pedra sabão dos profetas, em Congonhas do Campo (MG), uma das maiores obras
do barroco brasileiro produzidas por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho,
constatou que a estátua do profeta Isaías apresenta os lábios inchados. É a
interpretação que o genial Aleijadinho, em sua sensibilidade quase mística, nos
legou ao enfatizar desse modo o transformador toque da brasa ardente na boca do
profeta.
Isaías, mesmo sem saber de qual missão se tratava,
ao fazer a experiência de Deus em sua vida não pensa duas vezes: “Aqui estou!
Envia-me!”. Seus medos dissiparam-se imediatamente ao perceber a presença
misericordiosa e protetora de Deus.
“Velai, ó Deus, sobre a vossa família, com
incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos sob a vossa proteção”
(Oração do Dia).
Sem dúvida, podemos perceber que o chamado de
Isaías se faz presente no hoje de nossa assembleia litúrgica e na vida de cada
um dos seus membros participantes. Ela, assembleia, que se encontra hoje diante
do altar e do incenso, entoando com os mesmos serafins de Isaías o canto do
“três vezes santo” faz a experiência de se perceber pequena, é verdade, mas
amada pelo seu Senhor.
No evangelho vemos Jesus que entra na barca de
Pedro. Simão Pedro, sem que nada fizesse, teve a graça de ter sua barca, sua
vida, visitada por Jesus. À palavra do mestre ele se faz ao largo e faz a
extraordinária experiência de um Deus que supera todos os esforços humanos.
A Palavra de Deus nos mostra que nós somos Isaías,
nós somos Simão Pedro, que diante do gesto profético da pesca milagrosa operado
pela palavra de Jesus se joga aos seus pés, cheio de temor e espanto,
reconhecendo-se pecador.
Também nós somos convidados a fazer o gesto de
Simão. “Senhor eu não sou digno que entreis em minha morada...” dizemos a cada
eucaristia. Quem de nós de fato é digno?
No entanto, o primeiro passo para a conversão, para
se tornar profeta e “pescador de homens”, é reconhecer-se pecador, invocar a
misericórdia divina e ter a confiança que ele não nos rejeita. “Não tenhais
medo!”.
Fazer a experiência da gratuidade de Deus, fazer a
experiência de Paulo e da comunidade cristã primitiva de Cristo vivo e
ressuscitado, é a premissa para largar tudo – nossos projetos egoístas, nossos
medos, nossas angústias – e seguir Jesus, finalmente livres.
“Ó Deus, vós quisestes que participássemos do mesmo
pão e do mesmo cálice; fazei-nos viver de tal modo unidos em Cristo, que
tenhamos a alegria de produzir muitos frutos para a salvação do mundo”. (Oração
pós-comunhão).