32º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B
* Por Gabriel Frade
“O Senhor faz justiça aos que são
oprimidos; ele dá alimento aos famintos” (cf. Salmo responsorial)
Leituras: 1 Re 17,10-16; Salmo 145 (146); Hb
9,24-28; Mc 12,38-44
Na
primeira leitura proposta para este domingo nos deparamos com o profeta Elias a
caminho de uma cidadezinha chamada Sarepta. É importante dizer que este povoado
era uma cidade estrangeira onde provavelmente não havia a presença de judeus
praticantes, mas sim de fenícios que professavam a religião de Baal.
Vale
lembrar que alguns domingos antes, Elias havia sido descrito em franca rota de
colisão com os profetas de Baal: no famoso episódio do monte Carmelo, fica
patente que apenas o Deus de Israel é o Deus verdadeiro.
Pois
bem, é justamente no contexto de uma grande seca que assola toda a região, que
Elias vai visitar uma viúva com seu filhinho órfão. A situação é dramática: a
viúva ia preparar o resto de farinha para si e para seu filhinho para depois
esperar a morte.
Apesar
dessa história ter ocorrido há tanto tempo ela é atualíssima: faz lembrar o
nosso agreste sertão nordestino, onde milhares de pessoas sofrem hoje as
penúrias de uma seca prolongada; faz lembrar também as inúmeras pessoas que
passam fome em nossos grandes centros urbanos, sob os viadutos, nas favelas,
talvez, quem sabe, ao lado de nossas casas...
Voltando
ao texto, chama a atenção que Elias vá visitar justamente esta mulher
estrangeira: uma não seguidora do “verdadeiro Deus” Israelita. É precisamente nessa
situação que Deus, através de seu profeta, manifestará o seu amor e sua
compaixão universais, preferencialmente pelos pobres oprimidos.
Esse
episódio, interpretado à luz do Evangelho deveria colocar em xeque nossas
atitudes religiosas: será que Deus quer apenas nossa participação ritual na
celebração? Quem são os “doutores da Lei” do evangelho, hoje? Porventura não
seremos nós mesmos com nossas atitudes “religiosas” separadas da vivência
quotidiana? Estaremos nós servindo seriamente a Deus com nossa vida, ou estamos
dando apenas o supérfluo para parecermos justos e bondosos diante dos homens?
Deus de poder e misericórdia, afastai de
nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso
serviço (Oração do dia).
Essas
perguntas que a liturgia da Palavra nos coloca parecem ser extremamente atuais,
principalmente quando vemos tantos comentários nas redes sociais virtuais,
feitos por jovens católicos que, apesar da boa intenção, tomam atitudes, para
dizer o mínimo, unilaterais: parece que o bem, a compaixão, a ternura existem
apenas dentro das fronteiras da Igreja, ou ainda: o bom católico é aquele que –
aparentemente – vai à missa e se confessa com freqüência... É verdade. Mas é
igualmente verdade que Deus quer que nós superemos apenas o aspecto ritual da
celebração e avancemos para “águas mais profundas”: necessariamente nossa
celebração deve reverberar em nossa vida, assim como a vida de Cristo e seu
sacrifício, nos são apresentados em termos cultuais na segunda leitura da missa
tirada da carta aos Hebreus. Do contrário corremos o grande risco de reduzir a
liturgia a mero formalismo. É preciso dar ao Senhor as “duas moedinhas” da
totalidade de nossa vida na partilha generosa com os irmãos.
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